Fui uns dos primeiros a fazer a inscrição no primeiro dia, que foi 11/01/2016, ainda não tinha como certa a minha participação, mas me inscrevi para garantir a vaga, porem com a situação do País piorando a cada dia, em Julho resolvi a cancelar a minha participação, foi quando o amigo e Mestre Richard Dunner me ofereceu a hospedagem la na Itália, não poderia deixar passar essa oportunidade, então consegui viabilizar as passagens com minha esposa e filhas, juntei umas sobras de Euros na viajem para o PBP e mais umas pequenas economias e consegui viabilizar a viajem 30 dias antes da largada.

Foi quando comecei a planejar a minha participação, baixei os percursos das etapas no GPS e gravei algumas como rota no Strava, infelizmente nem todos os arquivos das etapas eram compatíveis com o aplicativo, mas era somente para backup caso o GPS desse problema.

Estudei os mapas, as altimetrias, intensifiquei os treinamentos e no dia 11/08/2016 embarquei para Milão, no mesmo voo estavam o William Previtalle e os irmãos Guarini,  Giuliano e Fabricio que se juntariam aos demais 16 brasileiros no LRM

É bom chegar uns 4 dias antes para ir se ambientando ao lugar, alimentação etc, fizemos uns passeios/treinos a fim de verificação se a bike estava em ordem

No mesmo dia da largada retiramos os kits e entregamos os Drop Bags, concentração total, pouco mais das 18:00 horas partimos eu e o Richard para o local de largada, uns 6 Km de distancia e para minha surpresa o meu pneu furou… Incrível… Bom, troquei a câmera e fomos pra largada, saboreamos o jantar oferecido na largada, Macarrão, Frutas, um doce e água, seria esta a alimentação oferecida em todos os PCs.

Etapa 1

A Largada foi as 21:28 horas do dia 16/08/2016 em Nerviano, Região metropolitana de Milão – Italia, partimos para Fombio e apesar de ter testado e retestado a bike, nos primeiros Kms perdi uma das lanternas trazeiras que se soltou e estraçalhou no alfalto, nos dias que antecederam a prova, percorremos uns 130 km por Milão sem nenhum problema, porem tive um pneu furado antes e perdi a lanterna logo depois da largada, como tinha outra lanterna segui na prova.

Os problemas de organização já apareceram logo na primeira etapa, a rota nos colocou numa estrada de cascalho e indicava passar numa propriedade particular, alguns entraram e outros voltaram, eu e o William fomos alguns daqueles que entraram na propriedade após abrirem o portão, pra sair tivemos que passar por debaixo de uma cerca de um canteiro de obras, seguimos o restante da etapa em ritmo forte, pelos menos pra mim, pois o Wiliam pedala muito forte mesmo, fomos uns dos primeiros a chegar daquele grupo que largou as 21:30.

Etapa 2

Na segunda etapa me desliguei dos demais brasileiros, minha rota indicou para eu passar por pouco mais de 1 Km num pasto, sim num pasto, tipo uma trilha com mato com usn 15 cm de altura, com uma speed onde tive que até fugir de cachorros, fui um dos últimos a chegar a Colorno, onde encontrei com os demais brasileiros do grupo, foi quando o Argentino Jorge Rovetto sugeriu andar em grupo pois as rotas estavam diferentes em alguns aparelhos de GPS.

Etapa 3

Apesar de não ser favorável a fazer minhas provas em grupo, aceitei a sugestão do Jorge com receio de me perder em plena madrugada, seguimos num ritmo bem forte até Massa Finalese, sempre com o William puxando o Pelote, nesta etapa tivemos o primeiro PC surpresa, que de surpresa não tinha nada, pois estava previsto em planilha, o PC foi numa balsa a beira do Rio Pó, foi bem legal essa parada, descansamos um pouco admiriando a bela paisagem. Grande parte dessa etapa seguiu por cima dos diques construidos para proteção de inundação do Rio

Etapa 4

No PC resolvemos que não iríamos mais acompanhar o ritmo do William, ele partiu para quarta etapa antes e seguimos pouco depois eu, o Richard, Jorge, Rafaela e Milton Della Giustina, já tinham passado mais de 300 km no plano e tínhamos mais 100 km plano até Lugo, não gosto muito de plano, não gosto de seguir em grupo, então foi inevitável meu ritmo cair em relação aos demais, tentei acompanhar até onde deu, então falei para os demais seguirem e diminui meu ritmo, o sol estava bem forte e me desgastou um tanto demais também. Em Lugo encontrei com a turma no PC, tentei dormir um pouco, mas consegui muito pouco mesmo.

Etapa 5

Partimos para a quinta etapa, começariam as grandes subidas, nos primeiros 35 km ainda eram planos e não consegui acompanhar o grupo novamente, comecei a ficar preocupado com o meu ritmo de prova, mas o sol baixou as subidas começaram e eu estava muito bem nas subidas, desta vez alguns de nosso grupo, que não eu é que não conseguiram acompanhar ritmo. No meio da parte mais leve da subida resolvemos parar num bar a beira da estada para juntar a turma, o Fernando se juntou a nós nessa etapa. Resolvemos seguir e eu e o Richard seguimos na frente, quando achávamos que a subida terminaria, foi aí que ela começou, Passo Sambuca de 1080 metros de altitude, mínimas de 7% e máximas de 15% de inclinação, nos mostrou o quanto era dura, para completar uma ventania muito forte no topo, já era noite. Foi dura mas serviu para me mostrar que meu problema eram o sol e o plano mesmo, me senti bem subindo. Segui e cheguei a Dicomano, me alimentei, nesse PC tínhamos opção por pizza a parte, comi uma pizza também e fui dormir, depois de mais de 26 horas de prova e 36 horas sem dormir, foram minhas duas primeiras horas de sono mesmo, apesar de ser um PC Dormitório a única coisa de dormitório que tinha era um ginásio fechado, tivemos que dormir no chão mesmo.

Etapa 6

Antes de partir para sexta etapa vi as bikes dos outros brasileiros do grupo e encontrei com o Fabricio e Giuliano chegando, seguindo para Vallombrosa a subida iniciou bem íngreme era La que Gino Bartali treinava para enfrentar o seu adversário Fausto Coppi. Quando fui beber água percebi que não havia enchido as caramanholas, havia somente um resto de água, Vallombrosa é uma  montanha cheia de comunidades residenciais, muito bonita a montanha e as comunidades, numa das casas encontrei um bebedouro de água fresca que salvou minha subida, era madrugada ainda, seriam 18 Km de subida também dura com trecho bem íngremes, quando amanheceu revolvi dar uma descansada na calçada acredito ter até pego um pouco no sono, uns 10 ou 15 minutos, quando retomei o pedal fui alcançado e ultrapassado pelo Richard, nos encontramos no PC no topo da montanha, comemos e resolvi aproveitar um pedaço de papelão e me deitei um pouco, alguém me cobriu com alguma coisa e quentinho dormi mais uma hora.

Etapa 7

Quando estava saindo para Chiusi, encontrei novamente com o Giuliano e Fabricio, o Richard já havia partido. Hora de descer, que bom descer, por isso gosto de subir, pois para cada subida tem uma descida rsrsrsrsrsrs tão bom descer que não reparei no GPS nem na planilha que precisava desviar para Regello, resultado passei 9 km de rota, no retorno com a ajuda de alguns moradores e um ciclista local que e deram informações consegui retomar o percurso, encontrei novamente os Guarini no caminho. Foi uma etapa com um visual belíssimo, cheia de curvas e ondulações e uma parte final plana, mais urbana com umas cidades bem organizadas, parei numa delas pra comer e beber alguma coisa, quando cheguei em Chiusi que era o primeiro Drop Bag, comi, bebi água sem gelo da organização, depois fui pro primeiro banho e troca de roupa, rodados 662 km e mais alguma coisa pelo erro de percurso no inicio da etapa, encontrei o Richard com problemas no selim, emprestei alguma ferramenta, mas o Richard pediu para que partisse sem ele,  então o deixei lá tentando resolver o problema no selim, o Jorge, Rafaela e Milton estavam no PC também.

Etapa 8

A etapa 8, no papel era mais parecida com os percursos daqui, porem nem tanto rsrsrs, os percursos eram sempre piores do que eu imaginava, era parte da tarde e finalizaria no inicio da noite, então o plano era comer e dormir em Todi, SQN, depois de uma tarde de um pedal bem satisfatório e bonito, nada de alimentação e dormitório em Todi, comi o pouco que tinha de opção de lanche no PC descansei um pouco e o jeito foi partir pra Bolsena, o problema era o percurso que viria, sem se alimentar adequadamente e com o sono batendo.

Etapa 9

Até Bolsena foram  3 montanhas, a primeira com os 5 km mais duros de toda a etapa, trechos de quase sempre acima de 10% e 15% de inclinação, asfalto péssimo, repleto de irregularidade, foi uma das poucas vezes que passou um carro da organização perguntando se eu estava bem, foi duro passar esses 5 km, mais um morro e depois uma longa descida, pra finalizar outra subida enorme, menos íngreme e mas bem longa, 20 km aproximadamente, que com o cansaço e sono ficaram  mais difíceis, nesse trecho tive alucinações, em todo momento pensava já conhecer o local, esfriou muito no alto da montanha com bastante neblina, tudo isso de madrugada, na chegada em Bolsena o GPS não indica exatamente onde era o PC, isso acontecia em quase todas as etapas, tem um Castelo bem bonito em Bolsena, mas o cansaço, sono, sensação que já esteve ali antes, irritação com os demais ciclistas que fingem não perceber que estamos perdidos e desapareciam me irritou e não fotografei o Castelo iluminado, com a ajuda da planilha e GPS consegui achar o PC, serviram um lanche com carne de porqueta, pelo menos foi isso que disse o cozinheiro rsrsrsrs. Meus powerbanks e baterias dos Cels e GPS já estavam no final, enfim, exausto fui dormir. Quando acordei fui tentar recarregar as baterias dos aparelhos, ter acesso a energia elétrica era outro problema que tínhamos que enfrentar.

Etapa 10

Já de manhã segui para o próximo PC, um pouco mais descansado iria enfrentar umas das mais difíceis etapas, foram 120 km com desnível de 1701 metros, mas com visual compensador, primeiro subir pra Pitigliano lugar impar, depois Sorano, Sforzesca seguida de Radicofani, canso só de lembrar, subir os 12 km da Radicofani não foi fácil, depois de vários aclives,  você vê tipo um forte bem no alto da montanha e seu otimismo faz pensar que a rota não ira até lá em cima, porem… Sim… A Rota vai até o topo, antes disso parei em dois locais pra comer, mas ambos fechados, férias na Europa fecha quase tudo. Após subir a Radicofani e irritação era o  maior sentimento, na ânsia de descer não procurei nada pra comer, descida muito boa, tão boa que passei do ponto novamente, tive que voltar uns 2 kms de subida e acessar a rota correta, depois de umas partes mais planas borá subir de novo, após um trecho em obras sem asfalto, parei e comi umas amoras na beira da estrada, vemos muito figo também, mas não gosto de figo. Antes de subir para Piensa comecei a me sentir debilitado, precisava comer, água no fim, comecei a rezar pra encontrar um pé de fruta, amora ou até mesmo figo, apesar de não ser fã comeria figo como se fosse chocolate rsrsrsrs e Deus existe mesmo, encontrei um pé de maça, sim maça, acho que nunca tinha visto um pé de maça, comi as maças, encontrei umas pastilhas de repositor energético no bolso e me recuperei pra subir pra Piensa, aliás outro local muito bonito, lá em cima tomei sorvete italiano. Bora para San Quirico Orcia, bastante sol, quando cheguei, coloquei o GPS e Celulares para carregar enquanto descansava e esperava o sol dar uma baixada.

Etapa 11

A Decima Primeira etapa foi a mais fácil até aquele momento, somente 51 km, passando por quase sempre trechos urbanos ou estradas bem agradáveis, mas como não poderia deixar de ser a planilha estava errada na ultima linha, informava 2 kms pro PC quando na vdd foram aproximadamente uns 5 kms. Neste havia um cardápio com mais opções, lanches com salames e presunto repuseram um pouco da proteína e sal, tomei uma cerveja pra comemorar mil kms. Neste PC havia o segundo e ultimo Drop Bag, hora de tomar o segundo banho, relaxar e dormir. Após acordar encontrei toda a galera brasileira que largaram na mesma banda que eu.

Etapa 12

Depois de um bom descanso, ter a melhor alimentação no PC parti para encarar a etapa mais longa, foram 140 km, logo no inicio o GPS me enviou para uma estrada de terra, pronto, achei novamente que a rota estava errada, voltei até o ultimo ponto de desvio para conferir e estava certo, inclusive a planilha informava que seria um trecho de “Strada Sterrata” foi duro de acreditar, mas era aquilo mesmo, 3 km de terra, passamos por varias estradinhas sobe desce, vira pra lá vira pra ca até chegarmos em Siena, de longe já se visualizava a Torre Del Mangia, era pra lá que seguiria, através das vielas com uma espécie de paralelepípedos gigantes chegamos ao alto, como não poderia deixar de ser,ao alto rsrsrsrs,  na Piazza Del Campo, outro belo lugar da Italia, havia bastante jovens no local, mas tínhamos que seguir a frente, passaríamos pelo segundo controle “surpresa” na Strada Del Vino” lembrei de São Roque e dos ciclistas do ABC reclamando daqueles falsos planos que tem lá kkkkkk, foi prazeroso pedalar lá na madrugada a afora, dei uma cochilada a beira da estrada pois bateu um sono, pouco depois havia um belo vilarejo com até padaria, mas eu já tinha feito o meu cochilo, bora seguir em frente até San Gimignano, lugar ao alto da montanha, ta ficando até repetitivo esse negocio de lugar ao alto, rsrsrsrs mas outro lugar espetacular de bonito, ao amanhecer ficou mais bonito ainda, parei pra tomar um café e vi 2 ciclistas seguindo em frente.

Ao começar a descida visualizei um acidente com um de nossos colegas ciclistas, parei, conferi se era realmente um participante da prova que havia se chocado de frente com um veículo, o socorro já havia sido chamando e pedi para uma das pessoas presentes que telefonassem para um dos organizadores que tinham o telefone impresso no passaporte, o ciclista estava com fratura exposta em uma das pernas, comunicado o fato, chegado o socorro, segui viajem, desta vez tomando mais cuidado nas descidas, os últimos 40 km da etapa eram planos até Stafoli Le Cerbaie. Após me alimentar e na hora em que me preparava para a saída encontrei o Manezinho da Ilha Argentino Jorge, que havia chegado resgatado por um carro, o mesmo me informou que havia caído e estava com suspeita de fratura em uma das mãos e abandonara a prova.

Etapa 13

Era chegada a décima terceira etapa, uma pra mim das mais temidas, pois subiria uma montanha de 20 km que após descida seria 50 km em aclive, bora encarar, sol rachando, ao pé da montanha está Collodi cidade do Pinocchio, sol intenso e subida contínua e interminável, errei o percurso novamente em um km subindo e tive que descer e retomar a subida do ponto em que errei, a planilha era bem incompleta, encontrei um italiano que quis saber mais sobre o desafio e disse que o topo estava próximo, mas nem tanto, faltando pouco, achei que tinha errado novamente, parei, subi numa das vilas construídas na montanha e perguntei para uma senhora numa Van quanto faltava para Benabbio, próxima cidade na planilha e a mesma me informou uns 5 km e subindo, até fez um gesto que era de subida íngrime, pelos meus cálculos não poderia ser, mas naquela altura do campeonato e eu estava alto hein rsrsrs, não podeira confiar nos meus cálculos, bora encarar os 5 kms, mas para minha surpresa eram somente 500 metros de subida os outros 4,5 km eram descida, a tiazinha me pregou uma peça, bem a cara dela que parecia ser muito do bem, mas quando essas coisas boas acontecem nesse desafio a gente desconfia, parei um ciclista que subia no sentido contrario pra confirmar se Benabbio ficara em baixo mesmo, sim, era verdade kkkkkkkkkkkk, descida bem íngreme, chegou a cansar de tanto descer, serio, cansei de descer aquela montanha. Agora era seguir no aclive de 50 km, parei em uma sorveteria e tomei uns 2 kilos de sorvete, a senhoria da sorveteria pouco acreditou que eu comeria aquilo sozinho. No inicio do aclive foi bem legal, um falso plano que rendia bastante, cruzei com uma prova de ciclismo de velocidade e por diversas cidades rio acima, encontrei uma bica de água gelada que foi bem gratificante, após a bica o aclive começou a piorar de inclinação, numa rotatória parei pra verificar a planilha mas um outro ciclista americano me alcançou e indicou a saída correta, fui com ele até o PC, em ritmo bem fraco, pois o sol estava bem forte e não parava de subir, Gorfigliano deve ser estação de esqui, pois não parávamos de subir e havia muitas belas montanhas e montes, sobe , sobe, sobe, pensei… o PC deve ser naquelas cabaninhas de suprimento pra esquiadores no topo da montanha, só pode kkkk, sobe, sobe sobe e nos deparamos com um belo lago, Lago Di Gramolasso, valeu a pena subir e passar ao lado daquele lago, mas não acabara ainda, tinha que subir mais, lembra da cabana de suprimentos kkkkkkk quando chegamos falei pra um italiano que o Fermo Rigamonti, o organizador deveria ser louco, o mesmo não concordou, disse que era demente mesmo kkkkkkkkkkkkkkkk sim, que tinha problema cerebral kkkkkkkkkkkkkkkkk, hora de comer novamente.

Etapa 14

Pra sair dali pasmem… Subimos mais um pouco até Minucciano e bora descer, a noite caiu parei pra organizar luzes e colete refletivo e vamos embora, passei pelos lugares mais sinistros do LRM, pelo menos foi essa a minha impressão, não parecia Europa, vai ver foi efeito do cansaço, meio com medo desenvolvi uma boa velocidade naquele plano de uns 25 km de asfalto ruim, alias a qualidade do asfalto deixou a desejar em boa parte do percurso. Enfim chegando a civilização visualizei um bar com um telão onde passava futebol e alguns italianos assistiam ao jogo, era a final da Olimpíada no Brasil, entre Brasil x Alemanha, parei pra comer alguma coisa antes de enfrentar mais duas montanhas até o PC em Deiva Marine, os presentes que me pareciam torcer para a Alemanha, também quiseram saber mais da prova em que eu participava, fiquei assistindo o jogo até o intervalo, o placar era de 1 X 0 para o Brasil, quando sai dali o pessoal disse que iria torcer pro Brasil rsrsrs, encarei a primeira subida de 12 km com um inicio pesado, bem cansado desisti de encarar a segunda subida quando vi um ciclista italiano que sempre o encontrava nos PCs dormindo num banco de uma igreja, era madrugada e resolvi fazer companhia a ele no banco lateral da igreja, uma hora depois acordei com um inicio de hipotermia, não parava de tremer, então resolvi seguir viajem, me aqueci e a tremedeira parou, era o litoral oeste da Italia, Bonassola, point de jovens na praia, mas minha praia era outra, vamos fazer o que mais fazemos até ali, que era subir, o visual era muito bonito, as luzes das casas a beira da montanha era encantador, subida dura, no topo a descida nunca vinha, até que cheguei de surpresa no PC, não era ali que marcava o GPS tampouco a planilha. PC desanimador, não tinha nada, nem comida, nem dormitório, nem banheiro e custou a aparecer o organizador pra carimbar o passaporte, quase o mesmo colou o selo de passagem na planilha dele ao invés do meu passaporte, encontrei uma manta térmica jogada e me embrulhei nela e dormi sentado numa cadeira numa espécie de varanda do restaurante que estava fechado.

 

Etapa 15

A décima quinta etapa começava com uma bela montanha, menos mal, pois estava bem frio e a subida iria aquecer, 12 km de subida dura 7% de media, parada para comer umas amoras e tirar um pouco da roupa. No topo parada pra vestir um pouco de roupa, pois a descida seria congelante, descida bem legal e bonita também, ai eu percebi o porque de vários carros estacionados na beira das estradas nas montanhas que já havia passado, existem muitos campings nas montanhas, na base parei pra tomar um café da manha e encontrei o gaucho Cesar que passava ali também pro café , ele me falou que dormira em um Hotel em cama macia e quente, que inveja rsrsrsrs.  Segui antes dele, o destino era Casella Ligure, 30 km de plano que segui em ritmo bem calmo e confortável, cidades estilo litorâneas, o sentimento era que já tava no papo, afinal faltavam aproximadamente 200 km e eu me sentia muito bem subimos uma serra no estilo das nossas aqui, no topo encontrei um alemão meio perdido e seguimos juntos até o PC.

Enquanto me alimentava ouvi os organizadores falarem do Argentino, como só havia um inscrito, só poderia ser do Jorge que estavam falando, me aproximei e perguntei, ouvi que o mesmo estava hospitalizado com suspeita de fratura numa vértebra e que não havia fratura na mão. Mandei msg pra ele mas não obtive resposta. Como estava sol forte resolvi tentar dormir um pouco antes do próximo PC, enquanto recarregava a bateria do GPS, sem sucesso, só descansei um pouco mesmo sem dormir, quando resolvi partir, verifiquei que algum infeliz desconectou meu GPS da tomada e o mesmo carregou somente 12%, esperei um pouco mais e partir.

Etapa 16

Penúltima etapa, falso plano descendo, essa sim foi a mais fácil, apesar do sol, o vento na na cara estava refrescante e diante da facilidade do percurso, comecei a fazer um resumo do que mais doía, na vdd doía quase tudo, mas a gente sempre sente a dor que mais incomoda no momento que era o pescoço, seguido da bunda, mãos, joelhos, pernas, costas, calcanhar e o dedo do pé. A bike também dava sinal de cansaço, as péssimas condições das estrada exigiram muito dela também, ouvia hora e outra alguns estalos na mesma, conversei com ela, a bike, para aguentar que faltava pouco, chegando no PC a ultima subida 5 km de trechos bem duras de 10% onde Fausto Coppi treinava, o ultimo PC era na casa dele, onde hoje funciona um Museu, ali fomos muito bem recebidos encontrei o Cesar novamente e esperei o sol baixar enquanto também recarregava a bateria do GPS que não pude fazer com sucesso no PC anterior

Etapa 17 – Ultima etapa

Bom era chegada a hora de partir pro abraço, eu não esperava que seria tão difícil, planejei ir de boas afinal agora era só chegar, só que as coisas aqui nunca saem como planejamos, saí seguindo as setas de indicação da organização pintadas no chão, em boa parte do percurso tinhas essas setas, em muitas mudanças de direção tinha essas setas, porem num certo ponto o local não batia com a rota do GPS, aconteceu muito isso, então resolvi voltar a seguir a rota do GPS, nisso encontro alguns ciclistas seguindo as setas, confuso, resolvi seguir os demais ciclistas, desliguei o GPS pra economizar bateria pois o que recarreguei não daria pros 120 km restantes, meu pescoço piorou, não conseguia mente-lo firme olhando pra frente, tinha que segurar meu queijo com uma das mãos para manter a visão na estrada a frente, foi um momento bastante difícil, o pelote engoliu mais um ciclista alemão que se juntou ao grupo, porem percebi que o pelote 100% de italianos com exceção de mim e do alemão se sentia incomodado com a nossa presença, conversinhas daqui, cochichos dali e o alemão me fez um sinal que estava percebendo o mesmo que eu. No PBP um grupo de italianos me fez pensar que tinham propositalmente errado o percurso para me despistar, mas até então aquilo foi só uma suspeita, diante do que eu presenciava na minha frente, me veio aquilo na memória e eu só estava esperando o mesmo acontecer… Pareciam até as mesmas pessoas, mas não eram, e tiveram a mesma conduta, num certo momento, uns 3 passaram batido numa entrada, logo mais a frente outros fizeram a mesma coisa e os que sobraram pararam, neste momento seguiu somente um italiano, que era um que havia conversado comigo em Minucciano, eu e o Alemão, presumi que aquele Italiano não concordou com a conduta dos demais e despistar os dois estrangeiros e seguiu conosco, mas por pouco tempo, pois liguei meu GPS e segui a rota por ele conferindo com a planilha e a setas no chão que estavam batendo a aquela altura, faltavam uns 60 km. Um tanto contrariado pela situação que em que me envolvi e me envolveram coloquei na cabeça que tinha que chegar antes deles, era questão de honra, sou latino e tenho sangue quente nas veias, soquei a bota, até a dor no pescoço passou momentaneamente. A noite caiu e o forte incomodo no pescoço passou, resolvi deixar pra lá a rixa com os italianos e segui em ritmo mais leve com o corpo mais ereto, posição em que conseguia manter o pescoço também ereto, mas como falei antes, nada é fácil aqui, iniciou-se uma ventania inacreditável, parecia que o mundo ia acabar, mal conseguia manter a bike na estrada, tive que retomar a posição normal e até mesmo a posição mais agressiva segurando no drop pra me esquivar do vento, porem naquela posição conseguia manter minha cabeça olhando pra frente somente por uns 5 segundos, então resolvi assumir o risco de pedalar olhando para baixo e me orientar pela faixa na estrada, assumi um risco desnecessário, visto que tinha tempo de sobra para parar descansar, esperar o vento passar ou a dor no pescoço melhorar, mas faltando 20 km, você quer é chegar, a rota levou pra ciclovia de MTB novamente e pelo GPS ia me orientando, torcendo para que a bateria aguentasse até o final, quando chegou a parte urbana fiquei mais aliviado, pois se acabasse a bateria era só seguir pra Nerviano que já aparecia nas placas de orientação. Pois bem, entrei na rua da chegada, logo a frente avistei uma sinalização daquelas parecida de aeroporto, indicando “é aqui” uhuuulllllllll cheguei, fui recepcionado por algumas pessoas me aplaudindo na chegada e com muita emoção passei pela linha de 1001 Migila Finisher.

Meus mais sinceros agradecimentos ao Richard Dunner, a minha esposa Simone e minhas filhas Bruna que alem de tudo cuidou dos negócios enquanto estive fora, Karina e Leticia, pois sem eles não teria conseguido viabilizar a viagem,  a Concept Bike que cuidou para que a bike ficasse a ponto de bala, inclusive com a relação de marchas que me ajudou muito, lembrava muito do Denis quando estava naquelas pirambas de 15%, ao Bruno que me emprestou os faróis reservas que acabaram como titulares rsrsrs, a toda equipe do Audax ABC e a Equipe do Corujão na qual acorda as 4 da matina para treinar e aos brasileiros que estiveram junto nessa empreitada e que de alguma forma ou de outra, fizeram parte dessa conquista.